Play Monday - Segundo!
Na sala de convívio, estavam os nossos utentes a conversar e
a ver televisão quando os abordei com aquele jogo em que se esconde um objecto
numa das mãos e se pergunta “que mão quer?”. A Sra. I. quis escolher logo uma
das mãos, a direita. “O que é isso?” Era um nariz de palhaço! “E o que está na
outra mão?” Outro nariz! Dois narizes! E para quê?


O nosso primeiro “brincar” foi o jogo do “olhar fixo”. Eu
com um dos narizes, o utente com o outro e agora ambos frente a frente, de
olhos nos olhos, sem poder rir. A primeira a jogar comigo foi a Sra I. Assim
que coloquei o meu nariz, ela já não parava de rir, tal como a Sra. C,
mas assim que começou o jogo escolheu a sua cara mais séria e conseguiu
mantê-la muitos segundos. Já eu, estava com alguma dificuldade, mas aguentei…
pouco tempo sem me rir. Ah! Um ponto para a Sra. I! A seguir foi a Sra. C. que colocou o seu nariz de palhaço. À minha frente, muito séria…
Confesso que aqui fiz batota e comecei a fazer algumas caretas para a Sra. C rir, mas ela resistiu. Eu não, outra vez. Enquanto isso, a Sra. M. dizia que só de ver já tinha vontade de se rir e nem estava a jogar. O Sr. J. e a Sra. C.B. também conseguiram ganhar o jogo e com a Sra. C.V. consegui um
empate. Tinha bons jogadores! Quando joguei com a Sra. M, foi um rir pegado,
nenhuma das duas estava mais de dois segundos sem rir, com ou sem nariz. Mas ao
jogar com o Srº J.C., e coloquei o nariz em mim e nele, o utente olhou para
mim e começou a chorar. Tirei os narizes porque pensei que o Sr. J.C. podia
não gostar ou ter medo. Perguntei-lhe se tinha sido muito invasiva, se o tinha
aborrecido com a brincadeira, e ele respondeu que não. Simplesmente tinha-se
emocionado por ter jogado com ele também. Às vezes, as doenças que nos
incapacitam de fazer uma vida normal fazem-nos pensar em tudo o que não dávamos
valor antes. Antes era tão fácil para o nosso corpo brincar, mas nunca tínhamos
tempo. O Sr. J.C. um dia disse-me “o tempo antes não chegava para nada,
nunca tinha tempo para fazer coisas que me faziam feliz. Agora já tenho tempo
para estar numa cama, sempre doente, a olhar para o nada”. Uma frase que faz pensar…
No nosso segundo “brincar” tive a ajuda das minhas colegas
Raquel (Psicóloga), Ângela (Animadora Sociocultural) e da Joana (Terapeuta
Ocupacional). Ora vamos lá jogar Bowling. Em três versões!
Os utentes estavam colocados em círculo e ao centro os
pinos. Tínhamos só quatro jogadores, porque os outros utentes tiveram que sair.
Objectivo 1ª versão: derrubar todos os pinos com uma bola. Cada
utente tem duas tentativas por cada ronda.

Começou a Sra. I. que referiu que não tinha muita pontaria.
Mas o brincar não precisa de pontaria, só de boa disposição. A seguir a Sra. C.B., a Sra. M., a Sra. C e voltámos ao início. Entre muito
entusiasmo e dedicação, pinos derrubados ou bolas que contornavam os pinos sem
os derrubar (é preciso também muito jeito para fazer isto) torna-se importante
destacar que quando estamos distraídos com brincadeiras, as dores passam um
bocadinho, e todos sabemos como as dores são chatas… por isso nem só de medicação
se faz a analgesia e isto não é novidade nenhuma, mas nunca é demais repetir e
reforçar. Vamos usar e abusar do Play Monday!

Objectivo 2ª versão: com pinos de dois tamanhos diferentes,
um maior ao meio e os mais pequenos à volta. Temos que derrubar o pino grande
sem tocar nos mais pequenos (hum… complicado?)

E voltámos as rondas, as bolas passavam de mão em mão e cada
uma dava o seu melhor. Eu e as minhas colegas eramos as “apanha bolas” e
garantíamos que o jogo não perdia o ritmo, ao mesmo tempo tentávamos a melhor
fotografia para registar o nosso momento.
Objectivo 3ª versão: com os pinos dispostos da mesma forma,
mas desta vez os pinos que deviam ser derrubados eram os pequenos enquanto o
maior teria que permanecer intocável.


A Sra. M. tinha realmente muito jeito para este jogo e
ficou toda orgulhosa por isso. As outras utentes quiseram saber qual o
“truque”, que segundo a Sra. M. nem ela própria sabia, mas referiu que era um
jogo que gostava muito. Em conclusão, uma bola “mágica” pode derrubar tristezas
e trazer sorrisos.
No fim das nossas brincadeiras, os brincantes foram
entrevistados pela Ângela sobre o que tinham achado sobre o nosso Play Monday.
Eis as perguntas e respostas!
Ângela: Sra. I., gostou deste jogo?
Sra. I: Gostei muito!
Ângela: Foi fácil ou difícil?
Sra. I: Fácil!
Ângela: E divertido?
Sra. I: Ah, muito divertido!
Ângela: Vamos repetir para a próxima?
Sra. I: Espero que sim. As vezes que forem precisas.
Ângela: Sra. C., o que achou deste momento?
Sra. C.: Achei engraçado, já tinha jogado uma vez, mas
nunca com “garrafinhas” de dois tamanhos.
Ângela: E voltava a repetir o jogo?
Sra. C: Sim, sim, voltava.
Ângela: Sra. M., a campeã do Bowling, o que achou de voltar
a jogar?
Sra. M: Gostei, já há muito tempo que não jogava. Com os
pinos pequeninos é mais difícil, mas gostei.
Ângela: Foi um momento divertido? O mais divertido do dia?
Sra. M: Sim, o mais divertido até agora.
Ângela: Sra. C.B., você gostou deste jogo, desta
brincadeira?
Sra. C.B.: Gostei muito deste jogo, espero que façam mais
destes para passarmos o tempo melhor e estarmos mais alegres todos juntos uns
com os outros. Gosto muito de estar com todas porque me ajudam em muitas
coisas.
Ângela: E esta foram as nossas entrevistadas brincantes,
obrigada a todas!
Um ambiente que estava trivial, transformou-se em minutos
muito mais animados de tão “sérios” que tínhamos que estar para o primeiro
jogo, ou do entusiasmo de jogarmos todos juntos Bowling. E o melhor, até a Sra. C.B. que se mostra
sempre mais renitente a participar nestas actividades mostrou-se muito empolgada deste o início. O efeito “surpresa” também ajudou, porque
raramente ocorrem actividades nessa altura do dia.
Não se nota bem na fotografia, mas tínhamos cartazes "Play Monday"!
Agradeço às minhas colegas Ângela, Raquel e Joana por
terem aderido automaticamente ao Play Monday na nossa Unidade e terem dado uma
grande ajuda! Este projecto veio para ficar! Até uma próxima segunda-feira!