Brincantes!!

Enquanto não chega a data da terceira acção do Play Monday... vejam os vídeos publicados pelos Brincantes do "Play Monday - Segundo" em Play Monday - Transformadores de Instantes. << The second Play Monday´s videos

Para dizer a verdade... vejam os vídeos todos!

Mais informações aqui! << More info!



Uma mão cheia de brincadeira para todos!
A handful of play to everyone!

#PlayMonday (21/09/2015)

Play Monday - Segundo!

Na sala de convívio, estavam os nossos utentes a conversar e a ver televisão quando os abordei com aquele jogo em que se esconde um objecto numa das mãos e se pergunta “que mão quer?”. A Sra. I. quis escolher logo uma das mãos, a direita. “O que é isso?” Era um nariz de palhaço! “E o que está na outra mão?” Outro nariz! Dois narizes! E para quê?

O nosso primeiro “brincar” foi o jogo do “olhar fixo”. Eu com um dos narizes, o utente com o outro e agora ambos frente a frente, de olhos nos olhos, sem poder rir. A primeira a jogar comigo foi a Sra I. Assim que coloquei o meu nariz, ela já não parava de rir, tal como a Sra. C, mas assim que começou o jogo escolheu a sua cara mais séria e conseguiu mantê-la muitos segundos. Já eu, estava com alguma dificuldade, mas aguentei… pouco tempo sem me rir. Ah! Um ponto para a Sra. I! A seguir foi a Sra. C. que colocou o seu nariz de palhaço. À minha frente, muito séria… Confesso que aqui fiz batota e comecei a fazer algumas caretas para a Sra. C rir, mas ela resistiu. Eu não, outra vez. Enquanto isso, a Sra. M. dizia que só de ver já tinha vontade de se rir e nem estava a jogar. O Sr. J. e a Sra. C.B. também conseguiram ganhar o jogo e com a Sra. C.V. consegui um empate. Tinha bons jogadores! Quando joguei com a Sra. M, foi um rir pegado, nenhuma das duas estava mais de dois segundos sem rir, com ou sem nariz. Mas ao jogar com o Srº J.C., e coloquei o nariz em mim e nele, o utente olhou para mim e começou a chorar. Tirei os narizes porque pensei que o Sr. J.C. podia não gostar ou ter medo. Perguntei-lhe se tinha sido muito invasiva, se o tinha aborrecido com a brincadeira, e ele respondeu que não. Simplesmente tinha-se emocionado por ter jogado com ele também. Às vezes, as doenças que nos incapacitam de fazer uma vida normal fazem-nos pensar em tudo o que não dávamos valor antes. Antes era tão fácil para o nosso corpo brincar, mas nunca tínhamos tempo. O Sr. J.C. um dia disse-me “o tempo antes não chegava para nada, nunca tinha tempo para fazer coisas que me faziam feliz. Agora já tenho tempo para estar numa cama, sempre doente, a olhar para o nada”. Uma frase que faz pensar…

No nosso segundo “brincar” tive a ajuda das minhas colegas Raquel (Psicóloga), Ângela (Animadora Sociocultural) e da Joana (Terapeuta Ocupacional). Ora vamos lá jogar Bowling. Em três versões!

Os utentes estavam colocados em círculo e ao centro os pinos. Tínhamos só quatro jogadores, porque os outros utentes tiveram que sair.

Objectivo 1ª versão: derrubar todos os pinos com uma bola. Cada utente tem duas tentativas por cada ronda.

Começou a Sra. I. que referiu que não tinha muita pontaria. Mas o brincar não precisa de pontaria, só de boa disposição. A seguir a Sra. C.B., a Sra. M., a Sra. C e voltámos ao início. Entre muito entusiasmo e dedicação, pinos derrubados ou bolas que contornavam os pinos sem os derrubar (é preciso também muito jeito para fazer isto) torna-se importante destacar que quando estamos distraídos com brincadeiras, as dores passam um bocadinho, e todos sabemos como as dores são chatas… por isso nem só de medicação se faz a analgesia e isto não é novidade nenhuma, mas nunca é demais repetir e reforçar. Vamos usar e abusar do Play Monday!

Objectivo 2ª versão: com pinos de dois tamanhos diferentes, um maior ao meio e os mais pequenos à volta. Temos que derrubar o pino grande sem tocar nos mais pequenos (hum… complicado?)

E voltámos as rondas, as bolas passavam de mão em mão e cada uma dava o seu melhor. Eu e as minhas colegas eramos as “apanha bolas” e garantíamos que o jogo não perdia o ritmo, ao mesmo tempo tentávamos a melhor fotografia para registar o nosso momento.

Objectivo 3ª versão: com os pinos dispostos da mesma forma, mas desta vez os pinos que deviam ser derrubados eram os pequenos enquanto o maior teria que permanecer intocável.

A Sra. M. tinha realmente muito jeito para este jogo e ficou toda orgulhosa por isso. As outras utentes quiseram saber qual o “truque”, que segundo a Sra. M. nem ela própria sabia, mas referiu que era um jogo que gostava muito. Em conclusão, uma bola “mágica” pode derrubar tristezas e trazer sorrisos. 


No fim das nossas brincadeiras, os brincantes foram entrevistados pela Ângela sobre o que tinham achado sobre o nosso Play Monday. Eis as perguntas e respostas!

Ângela: Sra. I., gostou deste jogo?
Sra. I: Gostei muito!
Ângela: Foi fácil ou difícil?
Sra. I: Fácil!
Ângela: E divertido?
Sra. I: Ah, muito divertido!
Ângela: Vamos repetir para a próxima?
Sra. I: Espero que sim. As vezes que forem precisas.
Ângela: Sra. C., o que achou deste momento?
Sra. C.: Achei engraçado, já tinha jogado uma vez, mas nunca com “garrafinhas” de dois tamanhos.
Ângela: E voltava a repetir o jogo?
Sra. C: Sim, sim, voltava.
Ângela: Sra. M., a campeã do Bowling, o que achou de voltar a jogar?
Sra. M: Gostei, já há muito tempo que não jogava. Com os pinos pequeninos é mais difícil, mas gostei.
Ângela: Foi um momento divertido? O mais divertido do dia?
Sra. M: Sim, o mais divertido até agora.
Ângela: Sra. C.B., você gostou deste jogo, desta brincadeira?
Sra. C.B.: Gostei muito deste jogo, espero que façam mais destes para passarmos o tempo melhor e estarmos mais alegres todos juntos uns com os outros. Gosto muito de estar com todas porque me ajudam em muitas coisas.
Ângela: E esta foram as nossas entrevistadas brincantes, obrigada a todas!

Um ambiente que estava trivial, transformou-se em minutos muito mais animados de tão “sérios” que tínhamos que estar para o primeiro jogo, ou do entusiasmo de jogarmos todos juntos Bowling.  E o melhor, até a Sra. C.B. que se mostra sempre mais renitente a participar nestas actividades mostrou-se muito empolgada deste o início. O efeito “surpresa” também ajudou, porque raramente ocorrem actividades nessa altura do dia.

Não se nota bem na fotografia, mas tínhamos cartazes "Play Monday"!




Agradeço às minhas colegas Ângela, Raquel e Joana por terem aderido automaticamente ao Play Monday na nossa Unidade e terem dado uma grande ajuda! Este projecto veio para ficar! Até uma próxima segunda-feira!

Próximo Play Monday... 21/09/2015!

Next Play Monday... 21/09/2015!


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#PlayMonday (17/08/2015)

Play Monday numa Instituição de Saúde? Para pessoas internadas? Claro que sim!

Talvez seja o local onde é mais fácil e difícil brincar, por todos os motivos que pesam quando a saúde falha e nos obriga a depender de outros para as actividades de vida diárias mais básicas. Convencer alguém nesta situação (independentemente da sua idade) a se "distrair"/brincar pode ser muito complicado por diversos motivos: apatia, depressão, dor, desorientação, alterações motoras, etc.

Quando questionei um utente sobre com quem gosta/gostaria de brincar a sua resposta foi "Com a morte. Brinco com ela e ela brinca comigo todos os dias." Uma boa resposta...

Lembrei-me da 2ª regra fundamental do Play Monday: "Junto - Não é fazer algo por alguém. É fazer com alguém! Brincar faz isso: é eu com o outro." E aqui fomos nós para o clássico jogo do balão, no nosso caso, da luva. Basta encher uma luva de ar e ficamos com uma mão-balão. Objectivo: que a luva "voe" entre nós sem cair no chão. Não foi necessário explicar o jogo, simplesmente começou.


1ª reacção: "Eu estou na cama, você de pé, não vale mexer as pernas, só vale usar um braço." (Muito justo. Fiquei parada e com o braço direito atrás das costas, só usei o esquerdo.)


2ª reacção: "Esta é uma mão azul muito doida." (Concordo plenamente.)

3ª reacção: "Acho que vou ganhar o jogo." (Nunca tive dúvidas disso!)

4ª reacção: "Tem o nariz vermelho, quem lhe bateu?" (Isto porque eu estava com o meu nariz vermelho de palhaço.)

5ª reacção: "Pronto, hoje vou dormir com a mão-balão." (E assim foi.)

O jogo mão-balão durou uns 5 minutos. A utente que brincou comigo tem 87 anos. Devido a um AVC, apresenta hemiplegia à direita, ou seja, o lado direito do corpo está paralisado, mas isso não a impediu de um grande jogo.

Os internamentos trazem aos utentes algumas horas de insónias, na maioria das vezes, pelos mesmos motivos que apresentei em cima em relação ao ser complicado "distrair"/brincar com alguém numa situação de doença.

Et voilà! O jogo do copo equilibrista das 4h da manhã! Muito prático, basta um copo que se quer equilibrado na ponta do nariz. Ah! E tem que ser sincronizado entre os jogadores... Utente sem sono, na cama. Entrego-lhe o copo a que chamei também "copo anti-insónia". Eu ao lado da cama, inclinada para trás a tentar manter o copo na ponta do nariz (aqui sem nariz de palhaço, para haver o máximo de igualdade entre os narizes equilibristas).

1ª reacção: "Muito complicado, vai cair sempre." Hum... pensamento negativo aumenta a força da gravidade.

2ª reacção: "Se não respirar, talvez o copo segure." Nãooo vale nãooo respirar!!

3ª reacção: "Este copo está bêbado. (risos)" Só se for de álcool etílico...

4ª reacção: "Olhe, olhe, olhe!" E eu olhei pelo canto do olho. Foram 4 segundos de equilíbrio sincronizado.

5ª reacção: "Repetimos, temos que conseguir mais tempo!" Vamos ser recordistas!

O jogo do copo equilibrista anti-insónia das 4h da manhã durou 10 minutos. O utente que equilibrou comigo tem 49 anos. Como sequelas de um TCE (traumatismo craneoencefálico), apresenta hemiparesia esquerda (o lado esquerdo do corpo apresenta uma paralisia parcial) e diminuição acentuada da acuidade visual. Mas o brincar não conhece nenhuma limitação.

Estes foram os nossos instantes transformados! À excepção do nariz de palhaço, todo o material usado faz parte da rotina diária, pelo que não é necessário levar uma mala cheia de objectos de casa, só um bocadinho de improviso e a vontade de uma segunda-feira com minutos mais sorridentes.
Play Monday devia fazer parte da prescrição médica, em dose diária! Obrigada, Cláudio e Daniel!

Até uma próxima segunda-feira!