#PlayMonday (21/12/2015)

Play Monday - Quinto!

A segunda-feira do mês mais desejada!

Hoje o nosso Brincar consistiu em manipular marionetas de sombras e criar uma história “à la minute”!
E aqui está! Como será que podemos brincar?
Começámos por apresentar aos utentes as nossa marionetas de sombra para que os nomes fossem escolhidos e posteriormente decidido que papel teriam na história.

Assim sendo as nossas primeiras quatro personagens:
Manuel Pastor
Mimi (das meias altas)
Joana
João

Depois de os nomes estarem escolhidos fomos brincar!
Nesta primeira parte, era eu e a Raquel que manipulávamos as marionetas de acordo com a história contada pelos nossos utentes, de forma a facilitar o início do nosso Brincar.


A Srª C. começou: “Era uma vez, uma menina chamada Mimi que ia para a escola pela estrada fora. Quando olhou para o lado viu um senhor que tinha um rebanho de ovelhas e que gostava muito de cantar.”
A Srª C.B. acrescentou: “A menina perguntou ao senhor se ele podia cantar para ela e ensinar-lhe aquela música. E o senhor ensinou, pelo que começou a cantar:
Toda a vida fui Pastor
Toda a vida guardei gado
Tenho uma cova no peito
De me encostar ao cajado.”

(Riso geral!)

A Srª M continuou: “A menina agradeceu ao Manuel Pastor e continuou caminho para a escola. Foi a correr porque já estava atrasada. Assim que chegou a escola pediu desculpa à professora pelo atraso e esta exigiu que não se voltasse a repetir, mas que mesmo assim estava desculpada.”
O Srº A disse: “E na escola a menina brincou muito.”
A Ângela perguntou: “E terão brincado a quê?”
Srº A: “Brincou à “cabra-cega”!”.

E a Sr. C. acrescentou: “Depois de brincar foi apanhar flores. Mas apareceu um senhor que se zangou com a menina por ela estar a apanhar flores, mas a menina respondeu que as flores eram para a sua mãe porque ela fazia anos hoje. A Mimi voltou para casa, ofereceu as flores à mãe que ficou muito contente. Depois foram almoçar e a menina mais tarde fez os trabalhos da escola com a ajuda da mãe. 
À noitinha, o Manuel Pastor voltou para casa e jantou com toda a sua família.”

Eis que a Srª C.B. sugere: “E se todos afinal fossem da mesma família?”
Assim sendo reformulámos a relação entre todas as personagens! O Manuel Pastor passou a ser pai do João. O João passou a ser marido de Joana e a Mimi filha de João e Joana e neta de Manuel Pastor. Depois de tudo no seu devido sítio:
A Srª M continua: “Como a Mimi não queria dormir, o avó contou-lhe uma história.”
“E que história seria essa?” perguntou a Ângela.
O Srº J. tentou começar, mas depois disse que era melhor ser outra pessoa a contar porque agora que pensava no assunto, não achava que fosse bom contador de histórias…
A Srª C. disse que o ajudava e começou a contar a história do “Capuchinho Vermelho”.
E assim foi, até a menina Mimi adormecer.
Entretanto chegou o marido da Srª C.B. que vinha fazer-lhe uma visitar e acabou por se sentar e assistir ao nosso teatro brincante.


"INTERVALO"

Srª C.B.: “O Manuel Pastor, depois de contar a história à neta, foi à procura da sua esposa mas não a conseguia encontrar. Procurou e procurou e nada. Até que o seu filho João apareceu e perguntou de quem estava ele à procura. O Manuel Pastor respondeu que era da sua esposa. Mas a sua esposa já tinha falecido. E ele não se lembrava disso.”
Então a Raquel perguntou: “E porque não se lembrava ele que a sua esposa já tinha falecido?”
A Srª M respondeu: “Porque tinha Alzheimer.”
A Srª C.B. continua: “Então, a Joana, nora do Manuel Pastor, que gostava muito dele, ajudou-o a ir deitar-se, porque já era muito tarde. Foram então todos dormir e sonharam muito.”
Eu perguntei: O que terão sonhado as nossas personagens durante a noite?
A Srª C. respondeu: “A menina sonhou com brinquedos, com a escola e com uma bicicleta, porque ela queria muito ter uma bicicleta. Todas as meninas na escola tinham uma e ela não.”

E foi aqui que a Srª C.B. e a Srª C. ganharam coragem e começaram a manipular as nossas marionetas de sombra. Aqui o Brincar ficou muito mais especial!
Contaram então a história entre o avó Manuel Pastor e a sua neta Mimi que queria uma bicicleta.
Srª C.: “Olá avozinho! Como estás? Queria tanto uma bicicleta! Podias oferecer-me?”
Srª C.B.: “Minha netinha, não tenho muito dinheiro, mas vou tentar oferecer-te a bicicleta. Vou vender duas ovelhas para comprar a bicicleta!”
Srª M.: “Entretanto entra o pai da Mimi e zanga-se com o Manuel Pastor, porque ele não devia oferecer a bicicleta, porque já não tem idade de comprar essas coisas, porque já está muito esquecido.”
Aqui a Ângela perguntou ao Srº A., o que poderia dizer mais o filho ao pai: "Invente o que quiser Srº A.! Solte a imaginação!” O Srº A. aqui ficou um bocadinho nostálgico, porque se lembrou do seu pai: “não diria nada porque o meu pai já morreu há muitos anos, arranjem outra brincadeira para mim. Desculpem, mas não consigo.”

E todos respeitamos este momento do Srº A., que ficou a assistir ao resto do nosso teatro, mas sempre muito pensativo.


A Raquel acrescenta, fazendo a voz de João: "Agora o meu velho pai quer comprar uma bicicleta à minha filha… bem, mas o meu pai é um homem sábio, ele não andou na escola, ele não sabe ler nem escrever, mas é doutorado na escola da vida. O que faço ao meu pai? Ele está doente…"
Então a Srª C. diz que “João e a Joana, conversam sobre esta situação, sobre qual será a melhor maneira de cuidar do pai Manuel Pastor, se teria de ser internado, se iria para um Lar… e resolvem que o melhor será ele ficar em casa, com a ajuda de João e Joana, porque ele, apesar da sua doença, ainda cuida das ovelhas sozinho.”

A Srª C.B. acrescentou: “Então a Mimi pergunta ao pai e à mãe porque o avô se esquece de algumas coisas. Será porque ele tem quase 100 anos? O pai responde que o avô está doente e é por isso que se esquece.”

Raquel: “O meu avô pode esquecer-se de muitas coisas mas eu continuo a gostar muito dele! Eu adoro o meu avô! Vamos avô, vamos ver as tuas ovelhas, porque está um dia muito bonito.”
Srª C.: “Olha que boa ideia, vamos minha neta! Vamos!”

E assim terminou a nossa grande história improvisada com os nossos utentes satisfeitos com todo o enlace e final (mesmo o Srº A. que no fim já estava mais animado).
No início, quando entrámos na sala com as marionetas, os nossos utentes estavam um pouco mais tímidos, mas depois, foi-se tornando tudo mais fácil e divertido.
Chegámos à conclusão que queríamos fazer mais teatro de sombras, com mais personagens e objectos!

Foi muito interessante ver, ao longo deste teatro de sombras, a descrição do dia-a-dia dos nossos utentes, de há muitos anos atrás e a relação com a sua família, bem como os seus receios depois de começarem a depender da ajuda de terceiros para as suas actividades de vida diárias. Tudo isso acabou por estar presente nesta história.

Agradecimento, como sempre, às minhas colegas!

(Agradecimento extra à Raquel que nos emprestou o seu projector, e à Joana, que filmou e fotografou!)

[ENGLISH]

Brincando a sério

Desde o primeiro Play Monday que realizámos em Agosto, nunca mais deixámos esta ideia. Que o Play Monday transforma instantes, disso já ninguém tem dúvida. E os nossos utentes já nos perguntam quando vai ser o próximo dia de Brincar.
Assim sendo, já consideramos que o Play Monday faz parte do nosso plano de actividades, porque todos os pretextos são bons para alterar a rotina.
Mas este Brincar também nos ajuda a completar a avaliação clínica mensal dos utentes, porque aquando da realização desta actividade conseguimos focar-nos em diversos aspectos:

A Joana, Terapeuta Ocupacional refere-nos que “ com o Play Monday centro-me na manipulação dos diferentes objectos, na coordenação visuo-motora, uni e bilateral, na compreensão e cumprimento de ordens, mas sobretudo no envolvimento ocupacional e participação social. Acredito que o desempenho nas diferentes actividades também é influenciado pelo interesse dos utentes perante as actividades que seleccionamos”;

A Ângela, Animadora Sociocultural considera o Play Monday "como uma partilha de sorrisos, que dá cor a um dia cinzento. É também um trabalho de equipa, de interacção entre todos, entreajuda, avaliando a vontade de participar e construir e o bem-estar connosco próprios, pois naqueles instantes somos um só”;

A Raquel, Psicóloga revela que “brincar activa as conexões cerebrais, promovendo um bem-estar emocional e psicológico, com alivio/diminuição dos sintomas depressivos e afastamento da realidade através de uma brincadeira;

Eu, enquanto Enfermeira, o que mais destaco no Play Monday é o alívio da dor, como alguns utentes me referem após o nosso Brincar, e tudo isto através das endorfinas que se geram a partir do riso e boa disposição, o que é excelente para libertar tensões, alíviar o stress (e não só).
Como referi na descrição de um dos Play Monday que realizámos, quando estamos distraídos com brincadeiras, as dores passam um bocadinho, por isso nem só de medicação se faz a analgesia. Vamos usar e abusar do Play Monday!


E assim, brincamos a sério na nossa Unidade! Gostaríamos muito de ler e ver outras Brincadeiras, quem sabe já no próximo Play Monday! Por isso volto a fazer um convite a todos os Profissionais de Saúde, Utentes, Familiares, Cuidadores, Amigos… em meio hospitalar para adoptarem este blogue e partilharem o seu Brincar. 
Vamos?

[ENGLISH]

#PlayMonday (23/11/2015)

Play Monday - Quarto!

Bom dia, Senhoras e Senhores passageiros. Sejam bem-vindos a bordo do nosso Play Monday. Este é um voo para Brincar, com uma duração indeterminada de horas.
Para vosso conforto e diversão, por favor coloquem a vossa disponibilidade e boa disposição à flor da pele!
Na preparação para a descolagem queiram sorrir, apertar o brilho nos olhos e colocar o pensamento em posição de alegria.

Obrigada e boa viagem!

E já vamos a caminho de Brincar sem sair da nossa sala de estar. Hoje, estamos a voar todos juntos em avião de papel! Leve, rápido e colorido!


“Que saudades de um avião de papel” disse a Sra. C.B..
A maior dúvida surgiu em qual cor escolher. A Sra. C., tal como no jogo dos balões escolheu o avião verde do seu clube, os outros utentes selecionaram de acordo com as suas preferências.
O Sr. J. disse que já não se lembrava muito bem como “aquilo” funcionava, então a Joana deu uma micro aula de piloto e correu tudo bem. 
Vamos a uma corrida?
A Joana já está na linha de partida com a bandeira de corrida a postos!


O motor-braço já está nas rotações máximas. Em 4 … 3… 2 … 1… partida! E o nosso espaço aéreo ficou cheio de cores e a pista de aterragem também! Mas ainda estamos só a aquecer e a aperfeiçoar os nossos aviões. A Sra. M. não ficou muito contente com o trajecto do seu avião azul-escuro porque queria um voo mais longo. Temos que tentar outra vez. Eu e a Joana resgatamos os aviões do chão e voltamos a entregá-los aos nossos pilotos. 
Outra corrida? Um “sim” uníssono! Vamos!
Novamente tudo preparado, de braço bem alto e 4… 3… 1! Como assim? Parece que a Joana tem uma bandeira de corrida muito divertida e gosta de testar a atenção de todos. 

“Cuidado com as falsas partidas!” disse a Sra. C.B. e todos se riram muito.

Ok, agora é que é! Vamos lá! Em 4… 3… 2… 1… partida! E o avião do Sr. A. fez um grande voo quase até ao outro lado da sala. Temos um piloto especialista! “É porque o avião é vermelho” justifica. Será que existe uma cor mais leve e voadora que as outras? 


E assim estivemos muitos minutos, por cada corrida, um novo vencedor, um novo avião mais rebelde e muito risos leves e bem-dispostos.
No final, cada um ficou com o seu avião, e a Sra. C.B. disse que ia guardar para oferecer à sua neta.



Play Monday é sempre uma garantia de um tempo muito bem passado. Obrigada por terem escolhido a nossa companhia para esta viagem. Tenham um óptimo dia e até à próxima!

#PlayMonday (19/10/2015)

Play Monday - Terceiro!

O nosso Play Monday deste mês foi muito leve. Tão leve quanto um balão! Um não, vários!

Desta vez o nome soou logo: “Vamos a mais um Play Monday?” E antes de começar recordámos o “Play Monday – Segundo”, os jogos, as brincadeiras, a boa disposição e… surpresa! Um saco cheio de balões vazios!
“Hoje vamos ter um jogo de balões.” Após muito folego (como eu estava destreinada a encher balões, ufa!) e ajuda das minhas colegas Ângela e Raquel, e em especial do Sr. A., enchemos muitos balões de várias cores. “E agora? Vamos estar todos em círculo para ser fácil ver e olhar todos.” Cada um com o seu balão (a Sra. C. ficou contente por ter um balão verde, “da cor do meu clube de futebol” disse ela.)
Então para começar, fizemos um exercício de equilíbrio de forma individual, só mesmo para aquecer. A Raquel reparou que o Sr. M. tinha um bom equilíbrio com o balão na cabeça, e o Sr. J.C. também, a Sra. C igualmente… enfim, todos os nossos utentes são bons jogadores!

Foi então que a Ângela teve uma ideia, escrever ou desenhar nos balões o que significa “Brincar” para cada pessoa. Os nossos balões ficaram muito mais bonitos.
O Brincar numa palavra-balão-desenho escrito por cada um:

Sra. M.: “Ioiô”

Sra. C.B.: “Juventude”

Sra. A.: “Alegria”

Sra. I.: “Alegria e Mocidade”

Sr. J.C.: “Divertir sem brigar”

Sra. C.: “Saltar à corda”

Sr. A: “Ir à pesca”

Sra. E.: “Sorrir”

Sr. M.: “Pião”

Sra. F.: “Divertir”

Sr. J.R.: “Junta de bois e carreta” 
(Aqui tive que perguntar ao Sr. J.R. o que era isso, ou melhor, o porquê de Brincar para ele ser isso. Então ele explicou: “quando era pequenino, fizeram para mim, esculpido em cortiça, uma junta de bois e carreta, para eu brincar, e era o meu brinquedo preferido. Os meus brinquedos eram de madeira ou cortiça e este representava o trabalho no campo dos meus pais.”)

O que mais gostei nesta brincadeira foi reparar que os utente, assim como se fosse uma “lâmpada a acender”, estavam a voltar ao brincar da sua infância, às suas memórias do que isso significava. Então, assim do nada, (correcção: do tudo!) falaram, de forma entusiasmada, de jogos e brincadeiras que faziam com os amigos. Surgiu o jogo “Linda falua”, o jogo do elástico, o berlinde, jogo do eixo, do lencinho … e foi tão bom o nosso Play Monday, ali naquele presente, à luz daquela lâmpada. Acho que foi um encontro de dois tempos distantes, que afinal estavam à distância de um sopro.

Depois de todo este aquecimento brincante, seguimos para o jogo principal que tinha como objectivo jogar os balões entre todos sem que caíssem no chão. E foi uma dança colorida de balões, cada um subia mais alto que o outro e a Ângela e a Raquel estavam ao meio a salvar os balões mais fugitivos. Impossível não sorrir com este jogo. E sim, fora com as dores! Ou pelo menos ficaram tão leves como o peso de um balão.




Muito importante também, desta vez tivemos a participação de familiares no nosso Play Monday, nomeadamente a filha e neta do Sr. J.C. e o marido da Sra. C.B., que ao chegarem para a visita, ficaram surpreendidos e também jogaram! Foram três gerações com a mão no balão!

Foi então que a Sra. C.B. enquanto o nosso jogo decorria, começou a cantar uma música. Adaptou a letra ao nosso jogo, e ficou assim:

“Oh balão,
E oh lindo balão,
Casadinho sim,
Solteirinho não.
Oh balão,
E oh lindo balão,
Amor da minh’ alma,
Dá-me a tua mão.
Eu tenho um balão correndo,
À tua porta parou.
Quando o balão te quer bem,
Que fará quem o jogou!
Oh balão,
E oh lindo balão,
Casadinho sim,
Solteirinho não.
Oh balão,
E oh lindo balão,
Amor da minh’ alma,
Dá-me a tua mão!”

Foram várias rodadas de balões! E música! E diversão! E boa disposição! E memórias! E gargalhadas! E…

Ah! Tivemos também um pequeno Play Monday nos quartos (enfermarias), porque o jogo dos balões ocorreu na sala de convívio. Aqui ainda foi mais leve (não vou descrever, acho que a foto vale por uma boa explicação). Só sei que a partir de hoje, vou começar a ter sempre com frasco de bolas de sabão no bolso.






Mais uma vez obrigada às minhas colegas! 

Próximo Play Monday... 19/10/2015!

Next Play Monday... 19/10/2015!




















Para inspirar... vejam o primeiro vídeo dos Embaixadores do Play Monday!
To feel inspired... watch the first video from the Play Monday's Ambassadors!

Brincantes!!

Enquanto não chega a data da terceira acção do Play Monday... vejam os vídeos publicados pelos Brincantes do "Play Monday - Segundo" em Play Monday - Transformadores de Instantes. << The second Play Monday´s videos

Para dizer a verdade... vejam os vídeos todos!

Mais informações aqui! << More info!



Uma mão cheia de brincadeira para todos!
A handful of play to everyone!

#PlayMonday (21/09/2015)

Play Monday - Segundo!

Na sala de convívio, estavam os nossos utentes a conversar e a ver televisão quando os abordei com aquele jogo em que se esconde um objecto numa das mãos e se pergunta “que mão quer?”. A Sra. I. quis escolher logo uma das mãos, a direita. “O que é isso?” Era um nariz de palhaço! “E o que está na outra mão?” Outro nariz! Dois narizes! E para quê?

O nosso primeiro “brincar” foi o jogo do “olhar fixo”. Eu com um dos narizes, o utente com o outro e agora ambos frente a frente, de olhos nos olhos, sem poder rir. A primeira a jogar comigo foi a Sra I. Assim que coloquei o meu nariz, ela já não parava de rir, tal como a Sra. C, mas assim que começou o jogo escolheu a sua cara mais séria e conseguiu mantê-la muitos segundos. Já eu, estava com alguma dificuldade, mas aguentei… pouco tempo sem me rir. Ah! Um ponto para a Sra. I! A seguir foi a Sra. C. que colocou o seu nariz de palhaço. À minha frente, muito séria… Confesso que aqui fiz batota e comecei a fazer algumas caretas para a Sra. C rir, mas ela resistiu. Eu não, outra vez. Enquanto isso, a Sra. M. dizia que só de ver já tinha vontade de se rir e nem estava a jogar. O Sr. J. e a Sra. C.B. também conseguiram ganhar o jogo e com a Sra. C.V. consegui um empate. Tinha bons jogadores! Quando joguei com a Sra. M, foi um rir pegado, nenhuma das duas estava mais de dois segundos sem rir, com ou sem nariz. Mas ao jogar com o Srº J.C., e coloquei o nariz em mim e nele, o utente olhou para mim e começou a chorar. Tirei os narizes porque pensei que o Sr. J.C. podia não gostar ou ter medo. Perguntei-lhe se tinha sido muito invasiva, se o tinha aborrecido com a brincadeira, e ele respondeu que não. Simplesmente tinha-se emocionado por ter jogado com ele também. Às vezes, as doenças que nos incapacitam de fazer uma vida normal fazem-nos pensar em tudo o que não dávamos valor antes. Antes era tão fácil para o nosso corpo brincar, mas nunca tínhamos tempo. O Sr. J.C. um dia disse-me “o tempo antes não chegava para nada, nunca tinha tempo para fazer coisas que me faziam feliz. Agora já tenho tempo para estar numa cama, sempre doente, a olhar para o nada”. Uma frase que faz pensar…

No nosso segundo “brincar” tive a ajuda das minhas colegas Raquel (Psicóloga), Ângela (Animadora Sociocultural) e da Joana (Terapeuta Ocupacional). Ora vamos lá jogar Bowling. Em três versões!

Os utentes estavam colocados em círculo e ao centro os pinos. Tínhamos só quatro jogadores, porque os outros utentes tiveram que sair.

Objectivo 1ª versão: derrubar todos os pinos com uma bola. Cada utente tem duas tentativas por cada ronda.

Começou a Sra. I. que referiu que não tinha muita pontaria. Mas o brincar não precisa de pontaria, só de boa disposição. A seguir a Sra. C.B., a Sra. M., a Sra. C e voltámos ao início. Entre muito entusiasmo e dedicação, pinos derrubados ou bolas que contornavam os pinos sem os derrubar (é preciso também muito jeito para fazer isto) torna-se importante destacar que quando estamos distraídos com brincadeiras, as dores passam um bocadinho, e todos sabemos como as dores são chatas… por isso nem só de medicação se faz a analgesia e isto não é novidade nenhuma, mas nunca é demais repetir e reforçar. Vamos usar e abusar do Play Monday!

Objectivo 2ª versão: com pinos de dois tamanhos diferentes, um maior ao meio e os mais pequenos à volta. Temos que derrubar o pino grande sem tocar nos mais pequenos (hum… complicado?)

E voltámos as rondas, as bolas passavam de mão em mão e cada uma dava o seu melhor. Eu e as minhas colegas eramos as “apanha bolas” e garantíamos que o jogo não perdia o ritmo, ao mesmo tempo tentávamos a melhor fotografia para registar o nosso momento.

Objectivo 3ª versão: com os pinos dispostos da mesma forma, mas desta vez os pinos que deviam ser derrubados eram os pequenos enquanto o maior teria que permanecer intocável.

A Sra. M. tinha realmente muito jeito para este jogo e ficou toda orgulhosa por isso. As outras utentes quiseram saber qual o “truque”, que segundo a Sra. M. nem ela própria sabia, mas referiu que era um jogo que gostava muito. Em conclusão, uma bola “mágica” pode derrubar tristezas e trazer sorrisos. 


No fim das nossas brincadeiras, os brincantes foram entrevistados pela Ângela sobre o que tinham achado sobre o nosso Play Monday. Eis as perguntas e respostas!

Ângela: Sra. I., gostou deste jogo?
Sra. I: Gostei muito!
Ângela: Foi fácil ou difícil?
Sra. I: Fácil!
Ângela: E divertido?
Sra. I: Ah, muito divertido!
Ângela: Vamos repetir para a próxima?
Sra. I: Espero que sim. As vezes que forem precisas.
Ângela: Sra. C., o que achou deste momento?
Sra. C.: Achei engraçado, já tinha jogado uma vez, mas nunca com “garrafinhas” de dois tamanhos.
Ângela: E voltava a repetir o jogo?
Sra. C: Sim, sim, voltava.
Ângela: Sra. M., a campeã do Bowling, o que achou de voltar a jogar?
Sra. M: Gostei, já há muito tempo que não jogava. Com os pinos pequeninos é mais difícil, mas gostei.
Ângela: Foi um momento divertido? O mais divertido do dia?
Sra. M: Sim, o mais divertido até agora.
Ângela: Sra. C.B., você gostou deste jogo, desta brincadeira?
Sra. C.B.: Gostei muito deste jogo, espero que façam mais destes para passarmos o tempo melhor e estarmos mais alegres todos juntos uns com os outros. Gosto muito de estar com todas porque me ajudam em muitas coisas.
Ângela: E esta foram as nossas entrevistadas brincantes, obrigada a todas!

Um ambiente que estava trivial, transformou-se em minutos muito mais animados de tão “sérios” que tínhamos que estar para o primeiro jogo, ou do entusiasmo de jogarmos todos juntos Bowling.  E o melhor, até a Sra. C.B. que se mostra sempre mais renitente a participar nestas actividades mostrou-se muito empolgada deste o início. O efeito “surpresa” também ajudou, porque raramente ocorrem actividades nessa altura do dia.

Não se nota bem na fotografia, mas tínhamos cartazes "Play Monday"!




Agradeço às minhas colegas Ângela, Raquel e Joana por terem aderido automaticamente ao Play Monday na nossa Unidade e terem dado uma grande ajuda! Este projecto veio para ficar! Até uma próxima segunda-feira!

Próximo Play Monday... 21/09/2015!

Next Play Monday... 21/09/2015!


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#PlayMonday (17/08/2015)

Play Monday numa Instituição de Saúde? Para pessoas internadas? Claro que sim!

Talvez seja o local onde é mais fácil e difícil brincar, por todos os motivos que pesam quando a saúde falha e nos obriga a depender de outros para as actividades de vida diárias mais básicas. Convencer alguém nesta situação (independentemente da sua idade) a se "distrair"/brincar pode ser muito complicado por diversos motivos: apatia, depressão, dor, desorientação, alterações motoras, etc.

Quando questionei um utente sobre com quem gosta/gostaria de brincar a sua resposta foi "Com a morte. Brinco com ela e ela brinca comigo todos os dias." Uma boa resposta...

Lembrei-me da 2ª regra fundamental do Play Monday: "Junto - Não é fazer algo por alguém. É fazer com alguém! Brincar faz isso: é eu com o outro." E aqui fomos nós para o clássico jogo do balão, no nosso caso, da luva. Basta encher uma luva de ar e ficamos com uma mão-balão. Objectivo: que a luva "voe" entre nós sem cair no chão. Não foi necessário explicar o jogo, simplesmente começou.


1ª reacção: "Eu estou na cama, você de pé, não vale mexer as pernas, só vale usar um braço." (Muito justo. Fiquei parada e com o braço direito atrás das costas, só usei o esquerdo.)


2ª reacção: "Esta é uma mão azul muito doida." (Concordo plenamente.)

3ª reacção: "Acho que vou ganhar o jogo." (Nunca tive dúvidas disso!)

4ª reacção: "Tem o nariz vermelho, quem lhe bateu?" (Isto porque eu estava com o meu nariz vermelho de palhaço.)

5ª reacção: "Pronto, hoje vou dormir com a mão-balão." (E assim foi.)

O jogo mão-balão durou uns 5 minutos. A utente que brincou comigo tem 87 anos. Devido a um AVC, apresenta hemiplegia à direita, ou seja, o lado direito do corpo está paralisado, mas isso não a impediu de um grande jogo.

Os internamentos trazem aos utentes algumas horas de insónias, na maioria das vezes, pelos mesmos motivos que apresentei em cima em relação ao ser complicado "distrair"/brincar com alguém numa situação de doença.

Et voilà! O jogo do copo equilibrista das 4h da manhã! Muito prático, basta um copo que se quer equilibrado na ponta do nariz. Ah! E tem que ser sincronizado entre os jogadores... Utente sem sono, na cama. Entrego-lhe o copo a que chamei também "copo anti-insónia". Eu ao lado da cama, inclinada para trás a tentar manter o copo na ponta do nariz (aqui sem nariz de palhaço, para haver o máximo de igualdade entre os narizes equilibristas).

1ª reacção: "Muito complicado, vai cair sempre." Hum... pensamento negativo aumenta a força da gravidade.

2ª reacção: "Se não respirar, talvez o copo segure." Nãooo vale nãooo respirar!!

3ª reacção: "Este copo está bêbado. (risos)" Só se for de álcool etílico...

4ª reacção: "Olhe, olhe, olhe!" E eu olhei pelo canto do olho. Foram 4 segundos de equilíbrio sincronizado.

5ª reacção: "Repetimos, temos que conseguir mais tempo!" Vamos ser recordistas!

O jogo do copo equilibrista anti-insónia das 4h da manhã durou 10 minutos. O utente que equilibrou comigo tem 49 anos. Como sequelas de um TCE (traumatismo craneoencefálico), apresenta hemiparesia esquerda (o lado esquerdo do corpo apresenta uma paralisia parcial) e diminuição acentuada da acuidade visual. Mas o brincar não conhece nenhuma limitação.

Estes foram os nossos instantes transformados! À excepção do nariz de palhaço, todo o material usado faz parte da rotina diária, pelo que não é necessário levar uma mala cheia de objectos de casa, só um bocadinho de improviso e a vontade de uma segunda-feira com minutos mais sorridentes.
Play Monday devia fazer parte da prescrição médica, em dose diária! Obrigada, Cláudio e Daniel!

Até uma próxima segunda-feira!